“Ruído” Daniel Kahneman

gelsontk
há 6 dias
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O que você espera sobre decisões importantes como o diagnóstico de uma doença, o julgamento de um crime, onde investir seu dinheiro ou até mesmo se será contratado por uma nova empresa?

Todos nós gostaríamos que esse tipo de decisão fosse assertiva e justa.

Mas, como mostra Daniel Kahneman, onde há julgamento, há ruído — e muito mais do que imaginamos.

Um juiz pode ser mais brando em sua sentença dependendo do horário do dia. Um mesmo médico pode dar diagnósticos diferentes para um mesmo caso. Um especialista em investimentos pode estar mais otimista com seus modelos se seu time venceu o último jogo. Um professor pode dar notas melhores se for um dia de sol. Você pode ser contratado se tiver a sorte de pegar os entrevistadores mais benevolentes.

Quando dependemos de julgamentos para tomar algum tipo de decisão, sempre existe margem para discordância. O que, por si só, não é ruim. Decidir o que vamos comer no jantar não tem impacto tão significativo nas nossas vidas.

Mas, quando as consequências são graves, devemos tentar eliminar esse tipo de discordância: o ruído.

Quando há erros de decisão, tendemos a culpar nossos vieses cognitivos — graças ao próprio Kahneman e seu livro, em coautoria com Amos Tversky, “Rápido e Devagar” — mas o ruído também é uma parte importante dos erros de julgamento.

“Se queremos decisões melhores sobre as coisas que importam, devemos levar a redução do ruído a sério.”

Veja os principais pontos no resumo visual do livro Ruído, de Daniel Kahneman:

Os 5 principais insights

1. Viés e Ruído

Kahneman usa a analogia do arco e flecha para mostrar como julgamentos podem apresentar vieses e/ou ruídos.

Em um grupo sem erros, todas as flechas acertam o centro do alvo. Porém, se existe algum viés, o grupo acerta praticamente no mesmo ponto — mas deslocado do centro.

Se existir ruído, os tiros serão dispersos, mostrando que outros fatores influenciaram a decisão.

Uma característica importante do ruído é que não precisamos saber qual é a decisão correta para perceber a sua presença. Basta observar a parte de trás dos alvos e veremos que há dispersão — ou seja, só precisamos comparar um conjunto de decisões para entender que existe ruído no sistema.

2. Tipos de Ruído

Existem 3 tipos de ruído:

Ruído de nível: Quando há diferentes pessoas em uma equipe julgadora — por exemplo, professores avaliando alunos — podem surgir divergências entre avaliadores. Um professor pode ser mais severo que outro. No resultado geral, esse desnível gera ruído de nível.
Ruído de padrão estável: O avaliador pode ser consistentemente mais rígido — ou leniente — em determinadas situações. Um juiz pode ser mais duro que a média ao julgar casos de racismo, por exemplo. Ou um professor pode dar uma nota mais baixa porque tem um histórico de problemas com determinado aluno.

Ruído de ocasião: Quando fatores externos alteram a decisão dos avaliadores. Estudos mostram que dias de sol influenciam positivamente as notas dadas por professores. O humor também é um fator reconhecido por afetar decisões — mas, mesmo assim, raramente criamos sistemas para neutralizar esse tipo de ruído.

3. Higiene de Decisão

Sabendo que o ruído está presente em praticamente todo tipo de julgamento, Kahneman propõe práticas de higiene de decisão. Assim como lavar as mãos evita a transmissão de doenças, a higiene de decisão tem o objetivo de reduzir o ruído antes que ele contamine os julgamentos importantes.

4. Entrevistas Estruturadas

Uma forma de evitar ruídos em entrevistas é estruturar o processo: decompor a entrevista em critérios claros a serem avaliados.

Dessa forma, garantimos que todos os entrevistadores considerem os mesmos aspectos relevantes — como habilidades técnicas, comportamentos e alinhamento cultural — evitando que cada avaliador foque em pontos distintos, o que gera ruído.

Outra medida eficaz é adotar avaliações independentes: cada entrevistador julga separadamente, sem discutir previamente com os demais.

A decisão final é feita com base na média das avaliações.

“A média de um grupo ruidoso será mais precisa do que a média de um grupo unânime.”

5. Escalas Relativas

Mais uma forma de reduzir o ruído é utilizar escalas relativas.

Se você pedir para que avaliadores deem notas de 0 a 10, alguns podem tender a dar 10 com facilidade, enquanto outros consideram essa nota um extremo. Isso gera ruído de nível.

Ao utilizar escalas relativas — com exemplos claros do que representa uma nota 9, 10, etc. — é possível alinhar melhor o entendimento dos avaliadores e reduzir discrepâncias.