Em uma de suas cartas anuais para o acionistas da Berkshire Hathaway, Warren Buffett descreve uma força invisível que assombra qualquer grande empresa, algo que ele chamou de Imperativo Institucional.
Segundo Buffett, as empresas seguem 4 “leis” quase que naturais que as fazem utilizar o dinheiro de forma ineficiente.
1. Uma instituição resistirá a qualquer mudança em seu rumo atual
Empresas são feitas de pessoas e pessoas são resistentes à mudança. O Status quo tende a prevalecer e o sistema quer que ele prevaleça. Qualquer mudança, por mais benéfica que seja e por mais que tenha resultados comprovados, apresentará resistência.
“Mas sempre fizemos desse jeito!”, “Por que mudar se está dando certo?”
Essa força faz parte da natureza humana. Pense nos nossos ancestrais, se o grupo inteiro tivesse o espírito aventureiro, o grupo inteiro poderia morrer tentando procurar um lugar melhor para viver. Uma parte do grupo ficava na caverna vendo se realmente era seguro sair, esperando os “aventureiros” voltarem.
Pense na curva de adoção da inovação. Uma curva normal, onde o Status Quo é a grande maioria. 50% das pessoas só abraçarão a inovação quando a maioria da população já aceitou e alguns somente quando não tiver mais escolhas.
Você pode até achar que sua empresa tem a cultura inovadora, mas como ela é feita de pessoas, você sempre terá a curva normal e a grande maioria votando pelo status quo (para o desespero dos inovadores e acionistas).
2. Projetos e aquisições se materializarão para absorver os fundos disponíveis
Por mais que “pensar nos acionistas” esteja entre as prioridades da empresa (às vezes até na sua missão), quando o assunto é gastar o seu orçamento, cada área irá priorizar a realização da sua linha.
Uma lógica um tanto quanto tola é justificar o orçamento do ano seguinte baseado na realização atual, levando as áreas a usarem o dinheiro de qualquer forma, muitas vezes com retorno extremamente baixo e até de forma desnecessária.
O negócio fica mais sério ainda quando envolve aquisições de outras empresas. É quando os líderes podem entrar em jogo, é divertido, emocionante. Mas, estatisticamente, só é vantajoso para quem os acionistas da empresa comprada.
“O diretor executivo perguntar para a equipe de planejamento estratégico se uma aquisição ou duas podem fazer sentido é como perguntar a um decorador de interiores se um tapete de U$50.000 é necessário” - Warren Buffett
3. Qualquer desejo do líder, por mais tolo que seja, será rapidamente apoiado por detalhados estudos sobre estratégia e taxa de retorno preparados por seu subalternos
No livro Subliminar de Leonard Mlodinow, ele apresenta duas formas diferentes de se chegar a uma conclusão. A primeira como um cientista, onde você coleta evidências a fim de chegar em um resultado. A outra é como um advogado, onde você tem o resultado e procura por evidências que comprovem o seu resultado.
Adivinhe como funciona o mundo corporativo?
É como se o líder jogasse uma flecha e as áreas de estratégia corressem para desenhar o alvo em volta da flecha. Na mosca, chefe!
É inevitável! As empresas são feitas de pessoas e cada uma vai defender o seu interesse, se manter ou subir no cargo.
Falar que a ideia do líder é um furada pode resultar naquele meme da pessoa sendo jogada pela janela do prédio. Sabemos que esse fato é verdade, que isso faz parte da graça da piada.
4. O comportamento de empresas similares será insensatamente imitado
Assim como na lei 1, os líderes também não querem se distanciar do bando. Caçar sozinho sempre foi mais perigoso do que caçar com o grupo. Por isso, escolher estratégias muito diferentes são perigosas.
É comprovado cientificamente, que o contexto social influencia e muito as nossas decisões.
Em um experimento, as pessoas precisavam falar para o grupo qual dos 3 riscos no quadro era o menor. Mas o que as cobaias não sabiam era que apenas ela estava sendo testada, o restante do grupo eram atores. E intencionalmente, os atores falavam respostas erradas e isso influenciava a decisão das cobaias, mesmo a resposta sendo claramente errada.
Não se engane. Da mesma forma, a ação de uma empresa similar irá influenciar a decisão da sua.
O mesmo funciona para definição de carteira de fundos de investimentos. É arriscado sair muito do consenso, pode significar a sua falência, por isso é comum as carteiras serem parecidas e tendendo para a média. O que, no longo prazo, não será muito melhor ou pior que o índice.
Não à toa, Warren Buffett já chegou a apostar um milhão de dólares se algum fundo fosse capaz de bater o S&P em um prazo de 10 anos. E ganhou!
Seguir a massa é o caminho mais seguro para a sobrevivência. E quem não quer sobreviver?
Qualquer semelhança com a sua empresa não é mera coincidência.
As 4 “leis” são inevitáveis porque as empresas são pessoas (incluindo o CEO e os VPs). e pessoas são irracionalmente previsíveis.
Ter a consciência que esses vieses existem pode ser um grande diferencial competitivo na tomada de decisão.
E mesmo que você não consiga lutar contra, no mínimo é interessante de ver que, por mais diferente que sejam as empresas, no fundo, elas são todas iguais.
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