Uma breve história sobre as mentes mais brilhantes da humanidade. Mlodinow consegue reunir todos os gênios, contando um pouco das suas personalidades e dos desafios que cada um enfrentou para chegarem às ideias que mudaram a rota da ciência através do tempo. Desde a antiguidade com Thales de Mileto filosofando sobre a vida até Heisenberg explicando a mecânica quântica, nós humanos estamos sempre em busca da resposta para a pergunta que moveu todo o pensamento científico: COMO O MUNDO FUNCIONA?

Nesse post irei focar primeiro em algumas reflexões minhas sobre o livro e recomendo que comprem (link Amazon) e leiam o livro, se você gosta de ciência é leitura obrigatória. No final deixarei o resumo que eu fiz para me ajudar a guardar as principais mensagens do livro, praticamente um spoiler do livro. Caso não queira, leia somente a primeira parte do post.
Os principais pontos para mim são aqueles que reforçam as qualidades dos grandes gênios e aqueles que desmistificam alguns fatos. Lições que podemos aproveitar para a nossa realidade:
1. Eles sempre questionam premissas passadas
Se você olhar todas as histórias verá que as grandes descobertas aconteceram quando se questionaram o status quo. Newton quebrou dois mil anos de ensinamentos de Aristóteles quando escreveu sua teoria da força e movimento. Einstein provou que a teoria de Newton não era universal, mostrando que nem o tempo é uma constante. Todos questionaram aquilo que eram consideradas verdades absolutas.

Como bem colocado por Seth Godin em seu livro “Tribos”, "vivemos em uma fábrica de ovelhas, onde incentivamos na escola e nas empresas o respeito às regras impostas e não o questionamento do status quo". Será que esse é o caminho para a inovação?
2. Eles sempre fazem as perguntas certas
“Existem várias pessoas normais que fazem perguntas normais e muitas se darão bem na vida. Mas as pessoas de maiores sucesso são aquelas que fazem as perguntas mais improváveis, perguntas que ninguém havia pensado ou que não geravam interesse. Essas pessoas serão consideradas excêntricas, estranhas e até loucas até quando o tempo chegar e elas serem consideradas gênios.” Leonard Mlodinow
Além de questionar as premissas passadas, os gênios conseguem fazer perguntas que outros não pensaram, consegue colocar o problema em um novo frame que possibilita novas soluções. Einstein dizia “Você não pode resolver um problema com a mesma mentalidade que ele foi criado”.
Será que incentivamos nossos filhos e alunos a fazerem as perguntas corretas ou apenas procurarem em algum lugar uma resposta correta, que alguém já pensou?
3. Não existe um momento eureca
Os gênios são sempre retratados como tendo insights em um momento de epifania. Mas a realidade é outra. Na verdade eles se debruçam em um problema e demoram meses ou até anos para encontrar uma solução. Newton levou mais de 20 anos desde a sua ideia do conceito de movimento e gravidade até publicar sua teoria, do momento em que começou a escrever até a publicação de “Principia”, ele trabalhou 18 meses praticamente só nisso, não saia do seu escritório, não comia e nem dormia direito. Se a cena da maça fosse verdade, do momento que ela se soltou da árvore até a queda na cabeça de Newton, ela já teria apodrecido. Charles Darwin não teve o seu insight olhando a ilha de Galápagos, apreciando o pôr do sol, levaram anos após a viagem de discussão com especialistas para ele começar a achar o link que faltava para explicar as mutações e a seleção natural das espécies.

Conforme Malcom Gladwell explicou em seu livro “Fora de série”, não gostamos de ver nossos campeões e ídolos como pessoas normais que se esforçaram para conseguir chegar no topo, preferimos acreditar que é um dom natural da pessoa.
“Genialidade é 1% talento e 99% de trabalho duro”. - Albert Einstein
No livro “Mindset”, Carol Dweck fala da nossa tendência de elogiarmos muito mais o talento “Como você é inteligente, um geniozinho!” do que o esforço “Como foi boa a sua estratégia para encontrar a solução”, o que leva as crianças a acharem que a inteligência é algo inato, ou você nasce inteligente ou está fadado ao fracasso. Será que não deveríamos mudar como vendemos os nossos gênios?
4. Eles falharam várias vezes
A ideia de que os grandes gênios são infalíveis também é uma imagem errada que temos. Newton, por exemplo, ficou vários anos trabalhando em Alquimia e Teologia. Procurava mensagens secretas na bíblia e levou anos para desistir e focar nas leis da física. Einstein não aceitou a teoria de Heisenberg por muitos anos, acreditando que seria uma teoria que comprovava na nossa ignorância com relação ao mundo quântico e se arrependeu no final da vida.
“Sucesso não é final, Fracasso não é fatal, é a coragem de continuar que conta” - Winston Churchill
Como é encarado as falhas e os erros nas escolas e nas empresa?
5. Eles acreditam nas suas ideias mesmo que não sejam compreendidos
Dmitri Mendeleev criou uma forma de consolidar de forma lógica dos elementos químicos e acreditava tanto na sua tabela que se recusava a aceitar que tinha erros e que os gaps da tabela eram elementos que ninguém conhecia. Em um episódio ele pediu para outro cientista mensurar o elemento gallium, recém-descoberto, pois não se encaixava no esquema e realmente o elemento continha impurezas que distorciam o seu peso.
Max Planck também sabia que não é fácil fazer com que as pessoas acreditem nas suas ideias “Uma nova verdade científica não triunfa convencendo seus oponentes e fazendo eles enxergarem a luz, mas sim porque seus oponentes acabam morrendo e uma nova geração cresce estando familiarizada com a ideia.
“Quando 99% das pessoas duvidam da sua ideia, ou você está terrivelmente errado ou perto de fazer história” Scott Belsky

Como Angela Duckworth chama de garra em seu livro “Garra – o poder da paixão e da perseverança”, os gênios possuem “um objetivo que eles se preocupam tanto que isso organiza e dá sentido a tudo que eles fazem... até mesmo quando eles caem”. O quanto incentivamos essa resiliência hoje em dia? Um problemaço da geração millenium
6. O ambiente e as pessoas ao seu redor são importantes
Se você olhar a história verá que o foco de genialidade sempre esteve em blocos. Primeiro na Grécia antiga que foi o berço do pensamento científico, com Tales, Pitágoras, Platão e Aristóteles. Depois na Itália renascentista, com Copérnico, Galileu, além de gênios como Da Vinci, Michelangelo e outros. Depois na Inglaterra, onde as grandes escolas possibilitaram que Newton, Halley, Kepler, Hook, Dalton e Darwin fizessem as suas descobertas, compartilhando o conhecimento com outras mentes. E, por fim, a Alemanha pré segunda guerra que reuniu Planck, Eisntein, Bohr, Heisenberg, Shrodinger, muitos do quais depois migraram para os Estado Unidos para fugirem da guerra.
Essa concentração não é coincidência. O ambiente e o seu entorno são fundamentais para geração de ideia. Compartilhando e discutindo suas teses é que são gerados os grandes insights. A ideia de um gênio solitário, que descobre tudo dentro do seu laboratório é uma exceção à regra. Outras visões que contrariam suas premissas são necessárias para que a ideia ganhe força e seja validada.
Essas são as grandes lições que tirei do livro para aplicarmos na nossa vida. Reflexões que nos fazem pensar em como melhorarmos, aprendendo com os acertos e erros daqueles que deveriam ser nossos exemplos. Lições que nos ajudem a entender como o mundo funciona!


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Outras referências:
Tribos (Seth Godin): https://amzn.to/2VCvDCq
Fora de série (Malcom Gladwell): https://amzn.to/2XFrGQ7
Mindset (Carol Dweck): https://amzn.to/3esdUX9
Garra (Angela Duckworth): https://amzn.to/34M9zcP
RESUMO DO LIVRO (SPOILERS)
Começamos a pensar sobre como o mundo funciona com o crescimento das grandes cidades na Grécia antiga, onde cada pessoa passou a se responsabilizar por uma tarefa específica e começaram a surgir os filósofos, que sem se preocupar em plantar, caçar ou fabricar algo, puderam focar suas energias em tentar explicar os fenômenos da natureza. Tales de Mileto foi o primeiro a propor que a natureza obedece a leis ordinárias, ou seja, passível de previsão. Em seguida, veio Pitágoras com algo mais desafiador, que a natureza não só obedece leis ordinárias, mas sim leis matemáticas, inventou uma linguagem que formou a base da matemática que aprendemos até hoje.
Esses pensadores influenciaram Platão que foi o grande professor de Aristóteles, o primeiro professor profissional da história. Aristóteles trabalhou em várias áreas, matemática, biologia, filosofia, entre outras, que na época não eram chamadas assim. Sendo conselheiro de Alexandre, o grande, ele compilou e descreveu todo o conhecimento em livros e aulas para formação de novos pensadores. Sua tese era que a natureza sempre procurava a harmonia, se algo se movia era porque ele estava procurando a harmonia, ou seja, se a chuva cai é porque a água foi feita para ficar no chão e não no céu. Até hoje temos a influência desse pensamento, quando achamos que tudo acontece com um propósito. Suas ideias foram tão influentes que por dois mil anos foram consideradas verdades absolutas.
Somente por volta de 1600, na Itália, Galileu Galilei começou a questionar as suposições de Aristóteles, propondo que a deveríamos mensurar os eventos da natureza, surgia a Física Experimental. Foi ele que deu força à teoria heliocêntrica de Copérnico e propôs que os objetivos em queda livre, caem com uma aceleração constante, o que influenciou posteriormente Isaac Newton.
Newton revolucionou a física com sua teoria da Força e movimento, as chamadas 3 leis de Newton. Mas a imagem do gênio tendo o seu momento eureca com a maça caindo na sua cabeça foi muito longe de ter acontecido. Ele demorou muito anos até conseguir definir suas leis, somente quando Edmund Halley o desafiou a explicar como a teoria de Kepler, ele focou na física, deixando outros temas que ninguém sabia que ele trabalhou de lado, como a alquimia e a teologia. Ele procurava na bíblia mensagens escondidas que explicariam o funcionamento do mundo, inclusive achou uma data para o fim.
Com suas teorias, Newton destruiu o mundo como conhecíamos e abriu novas fronteiras para descobertas. Na França, Lavoisier e Joseph Prestley começaram a entender o mundo da química, chegando a descobrir e nomear mais de 30 elementos, descobertas que só foram interrompidas porque ele acabou sendo executado na revolução francesa. Mas suas descobertas levaram John Dalton a procurar o peso relativo de cada elemento. E na Rússia, um professor chamado Dmitri Mendeleev tentando traduzir todas essas descobertas para russo se questionou se não haveria uma forma lógica para consolidar todos esses elementos. Ele viria a definir o esboço da nossa tabela periódica. Ele tinha tanta certeza de que os elementos seguiam essas regras que refutou algumas descobertas de novos elementos pois eles não se encaixavam na sua matriz e por fim ele estava certo. Ele, inclusive, indicou elementos faltantes descrevendo as suas características. Alguns deles foram achados 30 anos após a sua morte, sendo um deles o mendelevium.
No campo da Biologia, Francesco Redi provou que a teoria da geração espontânea estava errada através de experimentos simples e mais tarde Charles Darwin, com sua teoria da evolução das espécies provou que até a geração da raça humana teria suas raízes em leis físicas. Da mesma forma que Newton, Darwin levaria anos, mesmo após a sua viagem no navio Beagle, para conseguir consolidar a sua teoria.
Na Alemanha, Max Planck fez com as teorias de Newton o que o mesmo fez com as ideias de Aristoletes, provando que em níveis atômicos as leis newtonianas não se aplicavam, nascia a física quântica. Mas somente quando um jovem chamado Albert Einstein conseguiu provar a teoria quântica é que o assunto passou a ser discutido no meio acadêmico (mesmo assim levaram mais de 10 anos para isso).
Muitos gênios levam anos para conseguir elaborar uma tese que muda completamente a nossa visão de mundo, Einstein conseguiu aos 24 anos elaborar 3 dessas teses, no mesmo ano, trabalhando em uma empresa de patentes. Ele escreveu sua teoria da Relatividade, do movimento browniano e das leis da física quântica.
As suas ideias levaram Neils Bohr a definir um novo modelo quântico dos átomos, o modelo de estados estacionários, invalidando os modelos de Rutherford e Thompson e possibilitando a definição de número atômico, o ajuste fino na tabela de Mendeleev, transformando-a na atual tabela periódica.
Outro jovem alemão, Werner Heisenberg questionava todas as premissas sobre os modelos atômicos e começou a criar a sua teoria em cima apenas de dados mensuráveis, conseguindo através de complexas formulas matemáticas definir a nova mecânica quântica e postulando o seu princípio da incerteza. Provando que o mundo não é determinístico, mas sim probabilístico o que mudaria novamente a nossa forma de interpretar como o mundo funciona. A segunda guerra mundial acabou separando todas essas mentes brilhantes que poderiam ter desenvolvido muito mais coisa se estivem próximos.
E agora? Será que depois de tudo isso, temos a resposta para a pergunta que não se cala? A compreensão do mundo e do universo ainda está longe do fim. Matéria negra, a teoria das cordas e outras teorias ainda nos trarão novas visões e outras perguntas.
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