Uma das coisas mais fascinantes desse mundo é a capacidade de aprender dos bebês. Essas pequenas esponjas absorvem conhecimento de uma forma impressionante. Se você ficar do lado desses pequenos por alguns minutos e observar com cuidado, verá como eles vão construindo um sistema para descobrir coisas novas, desde tampas até o movimento de um carrinho.
Essa habilidade de adquirir conhecimento sempre foi algo intrigante desde a época de Platão. Questionamentos sobre o que é uma reação instintiva ou conhecimento adquirido pelos bebês.
Somente nas últimas décadas conseguimos criar experimentos que respondem a algumas dessas dúvidas. O que tornou a nossa compreensão sobre os bebês ainda mais impressionante.
Uma das formas de entender como os bebês pensam (já que eles não podem responder questionários), é observar o nível de atenção e a direção dos olhos enquanto eles acompanham algum evento.
Uma das descobertas é que desde muito pequenos eles já entendem sobre as leis da física. Isso mesmo. Em um experimento, os pesquisadores mostram um monitor com uma bola em movimento rolando da esquerda para a direita e sumindo do monitor. Mais na frente existe outra tela, onde a bola continua seu movimento.
O interessante é que os bebês acompanham a bola, com a velocidade certa. Elas não reagem com surpresa se a bola seguir o seu percurso “normal”. Porém, se na segunda tela, a velocidade for diferente (mais rápida ou devagar), ou se a bola parar onde ela não deveria, o bebê fica em dúvida. Olha para o primeiro monitor para verificar se é a mesma bola. Ou seja, ele se surpreende com um movimento fora do comum porque já aprendeu sobre inércia dos corpos antes mesmo de aprender a andar e falar.
E se na segunda tela, a bola mudar de formato, para um carrinho ou um pato de borracha, o bebê achará normal. Para eles, o movimento é mais importante que a aparência do objeto. Aprendemos a “classificar” em grupos com o tempo.
Para crianças de 2 anos, por exemplo, se dois objetivos se comportarem da mesma forma e forem constituídos internamente pelo mesmo material, pertencem ao mesmo grupo, independente da aparência exterior.
Outra descoberta muito interessante é sobre a percepção dos bebês sobre as outras pessoas. Descobriu-se que até uns 15 meses de vida, eles não compreendem que os outros possuem sentimentos diferentes dos deles. Se você comer brócolis e fazer uma cara de gostoso e depois comer um salgadinho e fazer uma cara de nojo, eles não entendem porque você fez isso e irá te oferecer sempre o salgadinho, que na visão dele todo mundo deveria preferir.
Porém, após os 18 meses, eles começam a entender que sim, as pessoas podem e pensam diferente, começam a aprender o que chamamos de empatia. Se você fizer o mesmo experimento, o bebê (ou a criança já) irá te entregar o brócolis, mesmo preferindo o salgadinho.
Outra lição que eles aprendem também é que as pessoas enxergam as coisas de forma diferente dependendo do referencial. Antes dos 2 anos, eles acham que o que ele está vendo é exatamente o que as outras pessoas estão vendo.
Se você pedir para esconder algum objetivo, eles irão colocar fora do campo de visão “deles”. Mas não necessariamente fora do seu campo de visão. Pois não existe a compreensão de um outro ponto de vista, isso só ocorre perto dos 3 anos de vida.
Todos esses experimentos descritos no livro “The Scientist in the crib” (O cientista no berço, sem tradução para o português) mostram que esses pequenos seres sabem muito mais do que pensávamos e que não devemos subestimá-los (Cuidado quando for mimá-los! Farei outro post sobre isso).
Mas o que mais me chama atenção não é o fato de eles terem muito a aprender com a gente e sim o contrário, que temos muito que aprender com eles.
Desde cedo (após os 2 anos), eles aprendem a não classificar as pessoas, a entender e prestar atenção às preferências dos outros e compreendem que sim, os outros enxergam coisas diferentes das suas.
Eles não tentam convencer os outros das suas próprias crenças, eles apenas entendem e aprendem com isso, formando a própria visão de mundo.
Agora, pense em toda a discussão política que temos visto e que iremos ver no ano que vem. Sobre as discussões de igualdade de gênero. Sobre liberdade religiosa. Como bebês de 1 ano, as pessoas muitas vezes estão somente oferecendo o salgadinho que elas acham mais gostoso.
Será que desaprendemos com o tempo a ter essas habilidades sociais como a empatia? Ou será que algumas pessoas nunca aprenderam de fato?
Questione-se e aprenda com esses pequenos seres fantásticos.
Assista ao TED de Alison Gopnik, autora de "The scientist in the crib"
Livros para os questionadores
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