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A beleza do poker (e dos investimentos)

Na faculdade, costumávamos jogar poker nas noites de sexta-feira. Era a época do boom do jogo, e todo mundo queria aprender. Eu já me aventurava no online, mas muitos amigos ainda estavam dando os primeiros passos.

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Uma das minhas diversões era tentar adivinhar as cartas dos meus oponentes quando chegávamos ao heads-up. Muitas vezes eu dizia a mão deles antes mesmo de mostrarem. A reação era sempre a mesma: um olhar de espanto, como se eles tivessem presenciado um truque de mágica.


Lembro de uma mão até hoje: o oponente deu raise no turn e eu respondi: “Reraise, porque acho que esse seu Ás e Cinco de ouro já perdeu essa mão.” O olho dele arregalou. “Como assim? Como você sabe?”. Ele fugiu, e eu puxei o pote — mesmo tendo uma mão pior.



No começo, o poker se resume a decorar a ordem dos jogos e entender as probabilidades. O iniciante olha apenas para a própria mão e para as cartas da mesa.


Mas a verdadeira beleza do poker aparece quando você percebe que poker não é só um jogo de probabilidades, mas é um jogo de expectativas. Quando você deixa de jogar apenas as suas cartas e passa a jogar também a “mente” do oponente.


Como funciona a mágica?


O jogador experiente sempre coloca o adversário em um range de mãos possíveis desde o início do jogo. A cada carta virada, uma nova informação restringe esse range:

  • Quanto ele apostou em relação ao pote?

  • Como essa aposta se compara com a anterior?

  • Qual foi sua reação à carta do turn ou do river?

  • Que tipo de jogo ele pode estar construindo?

  • Que carta futura o assusta — ou o favorece?


Só depois de juntar todas essas pistas ele volta para a própria mão. E, às vezes, nem precisa dela para jogar: basta fazer o oponente acreditar que está perdendo.


No poker, chamamos isso de metagame.


Nos investimentos, Howard Marks chama de pensamento de segundo nível.



Em seu livro O Mais Importante para o Investidor, Marks escreve:


“Uma vez que outros investidores podem ser inteligentes, bem informados e altamente informatizados,é preciso encontrar alguma vantagem que eles não tenham, pensar em algo a que eles não se ativeram, ver coisas que eles não conseguiram enxergar ou perceber o que eles não perceberam. É preciso reagir e se comportar de maneira diferente.


O pensamento de primeiro nível é simplista, superficial e comum a quase todas as pessoas. “O cenário da empresa é favorável e, por isso, as ações vão subir.”


O pensamento de segundo nível é profundo e complexo. O pensamento deste nível leva muitas coisas em conta:

Qual é a gama de prováveis resultados futuros?

Que resultado eu acho que vai ocorrer?

Qual é a probabilidade de eu estar certo?

Qual é o consenso?

Em que aspectos minha expectativa difere do consenso?

Como o preço atual do ativo se comporta com base na visão consensual do futuro? E na minha visão?

A psicologia de consenso que está incorporada ao preço é muito otimista ou pessimista?

O que acontecerá com o preço do ativo se o consenso estiver certo? E se estiver errado?


Pensadores de primeiro nível buscam fórmulas simples e respostas fáceis. Os de segundo nível sabem que investir bem é a antítese da simplicidade.”



Assim como no poker, investir - especialmente em ações - também é um jogo de expectativas.


Existem inúmeras técnicas de valuation para estimar um preço justo. Mas isso é olhar apenas para a própria mão.


Não adianta muito encontrar um “preço justo” sem entender o que o mercado espera. Uma ação pode ficar meses e até anos longe desse valor. O mercado pode permanecer irracional por mais tempo do que gostaríamos.


Como diz Michael Mauboussin:

“Quando você negocia em mercados, não basta ter sua própria visão; você precisa considerar o que as outras pessoas pensam.”

Mas pensar no segundo nível é difícil. Não é ciência exata.


Exige pensamento crítico sobre nossas teses e sobre o que o mercado está precificando. 


Como aprendi no poker, conseguir desenvolver essas habilidades, precisamos de 3 coisas:


  1. Entender que jogo estamos jogando (espero que o post tenha ajudado com isso);


  2. Um processo de decisão que faça você refletir sobre as expectativas e as narrativas do oponente (ou do mercado) - e não apenas as suas cartas;


  3. Treino (e paciência). Não existe atalho. Você só melhora através de muita tentativa e erro, depois de muito tempo de jogo.


Nas palavras de um dos maiores investidores de todos os tempos, Charlie Munger: 

“Não é para ser fácil, é tolo quem acha que é.”

Mas quando você chega no nível de “enxergar” a carta do oponente, começa a jogar o jogo de verdade. Começa a dominar a arte. Aos olhos dos outros, vai parecer mágica.


E essa é a beleza do poker — e dos investimentos.



Esse é uma parte de um capítulo do livro que eu estou escrevendo.


Se você gostou do conteúdo, compartilhe a publicação e deixe o seu curtir para eu saber se continuo divulgando alguns trechos do livro antes da publicação.



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